terça-feira, 29 de outubro de 2013

Sessão 21 - Só os bonitos podem ver.

     Eu ando com a sensação de que estamos todos muito enganados sobre o que é, realmente, a beleza. Quando eu era pequena, algumas pessoas da minha família tinham um certo prazer em dizer que eu não era bonita, eu lembro que a minha avó ficava bastante preocupada com a forma como aquilo poderia me afetar e que minha mãe sempre dizia "Seja uma boa pessoa, o resto é besteira". De fato, aquilo nunca me afetou, nunca tive problema com a minha aparência, tanto que, no colégio, aquelas "brincadeiras", que hoje em dia são chamadas de bullying nunca, realmente, me abalaram. Cresci com a noção convicta de que eu tinha que ser um ser humano decente e trabalhar duro, me esforçar e me dedicar para conseguir o que eu desejava e que o meu cérebro e a forma como eu o alimentava me levaria a qualquer lugar. A beleza, para mim, sempre foi uma questão de referencial, o que é bonito para mim, não é bonito para o outro e não podemos agradar a gregos e a troianos. Desde que eu me sinta bem e feliz com quem sou, com a minha aparência e minhas decisões, eu sou a pessoa mais linda do universo. Se algo me incomodar, tipo aqueles três quilinhos que não deveriam estar aqui, eu emagreço, mas isso é por mim, porque eu não estou gostando de me ver assim; se a minha roupa está boa para mim, eu não poderia fazer nada com relação a sua percepção do meu estilo ou falta dele, mas eu estou bem, eu estou em paz, eu estou feliz. Esse é o meu sagrado, ninguém deveria interferir. Eu estou bela e não há nada que possa destruir isso. Porque essa é a forma como eu me vejo e beleza é isto: percepção e referencial. 
         Mas o que me incomoda mesmo é que a beleza anda abrindo portas que deveriam ser abertas por meio da dedicação e do esforço. E, na minha opinião, está tudo ao contrário. Me perceba por quem eu sou, não pelo que eu tenho, porque, por mais estético e visual que o mundo seja, o que eu sou é o que conta. Ou deveria. É aí que está a minha beleza, mas talvez, essa seja uma daquelas coisas que "só os bonitos podem ver".